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Lista das Emoções em Cícero

 

Por Joelson Nascimento

APENDICE I

 Lista das emoções (perturbationes animi) em Cícero. Tradução para o inglês de Margarete Graver[1]:

 DOR (Aegritudo) 

1.                  Inveja (invidentia / phthonos): dor experimentada por causa da boa sorte de outra pessoa.

2.                  Rivalidade (aemulatio / zelos): é usado em dois sentidos, como um termo de elogio ou um termo de acusação. Pois a imitação de excelência é chamada de “rivalidade” (embora não seja a isso que estamos nos referindo aqui, pois é um termo de elogio), e rivalidade também pode ser “angústia porque outro obteve o que desejou para si mesmo, mas não ter.

3.                  Ciúme (obtrectatio) (zelotypia): é a dor causada porque outro obteve da mesma forma o que desejou para si mesmo.

4.          Piedade (misericordia / eleos): é a dor pela miséria de outro que está sofrendo injustamente - pois ninguém se compadece da punição de um parricídio ou traidor.

5.                  Ansiedade (angor / achthos): é uma dor opressiva.

6.            Luto (luctus / penthos): é a dor pela morte prematura de uma pessoa que era muito querida

7.                  Tristeza (tristitia / odyne): é a dor que tende a chorar.

8.                  Angústia: (tribulatio / algos) é a dor que envolve tortura.

9.                  Lamento (lamentatio / threnos): é a dor acompanhada de soluços.

10.              Fadiga (aerumna) (odune): é uma dor árdua.

11.              Preocupação (sollicitudo / ania): dor acompanhada de pensamento.

12.              Melancolia (melancholia): dor duradoura.

13.              Aflição (algosnia): dor acompanhada de doença corporal.

14.              Desespero (hapelpismos): dor que não tem expectativa de que as coisas vão melhorar.

 

MEDO (timor) 

1.                  Preguiça (pigritia / ocknos): medo do trabalho iminente.

2.                  Terror (dima): medo de duros ataques.

3.                  Vergonha (pudor / aischune): a vergonha é acompanhada pelo rubor, mas o terror pela palidez, tremor e ranger de dentes.

4.                  Pânico (thorybos): ouvido que destrói a mente. Conforme as palavras de Enius: ‘então, o pânico tirou toda a sabedoria do meu peito, e eu estava petrificado”.

1.                  Petrificação: medo que se segue ao pânico.

2.                  Agitação: medo que se espalha nos pensamentos de alguém.

3.                  Pavor: medo duradouro.

 

PRAZER (voluptas) 

1.                  Malevolência (malivolentia / epichairekakia): prazer que surge do infortúnio de outro que não traz nenhum benefício para si mesmo.

2.                  Encantamento (delectation / kelesis) =  prazeres que encantam a mente pela sensações adquiridas através dos ouvidos, os olhos, toques. São cheiros e sabores, todos iguais no sentido de que se derramam sobre a mente como líquidos.

3.                  Vanglória (vanitas / chaychaomai): prazer que exulta e exibe arrogância.

 

DESEJO (voluntas) 

1.                  Ira (ira / orge): desejo de punir uma pessoa que se pensa ter prejudicado alguém injustamente.

2.                  Ressentimento (excandescentia / thumos): raiva inicial, quando acabou de acontecer.

3.                  Ódio (odium / menis): raiva aumentada.

4.                  Rancor (inimicitia / kotos) = raiva que espera sua hora de vingança.

5.                  Dor do coração (discordia / eris): uma raiva mais amarga que nasce nas profundezas da mente e do coração. No uso comum, a palavra normalmente se refere a uma situação social, ‘briga, inimizade’.

6.                  Necessidade (indigentia / spanis): desejo que não pode ser satisfeito.

7.                  Saudade (desiderium): desejo de ver alguém que ainda não está presente.

 

APENDICE II

 

Taxonomia estoica das emoções. Tradução para o português de Aldo Dinucci[2]

 DOR (λύπη) 

1.      Compaixão (ἔλεος):  sofrimento pelo que padece imerecidamente.

2.      Inveja (φθόνος):  sofrimento pelos bens de outrem.

3.      Ciúme (ζῆλος): sofrimento por outro estar com quem se deseja.

4.      Rivalidade (ζηλοτυπία): sofrimento por outro estar com as coisas que se possui.

5.      Pesar (ἄχθος): sofrimento opressivo.

6.      Aborrecimento / Claustrofobia? (ἐνόχλησις): sofrimento em confinamento e por falta de espaço.

7.      Aflição (ἀνία): sofrimento por pensamentos que permanecem ou que se intensificam.

8.      Tristeza (ὀδύνη): é sofrimento de pesar.

9.      Confusão (σύγχυσις) : sofrimento irracional que desgasta e impede de compreender as coisas presentes.

               MEDO (φόβος)

1.      Terror (δεῖμα): medo que produz temor.

2.      Alarme (ὄκνος): medo da ação iminente.

3.      Vergonha (αἰσχύνη): medo da má reputação.

4.      Consternação (ἐκπλήξις): medo diante de representação de coisa não familiar.

5.       Pânico (θόρυβος): medo com vozes ansiosas.

6.      Agonia (ἀγωνία): medo quando há algo indefinido.

 

                DESEJO (ἐπιθυμία) 

1.                  Carência (σπάνις); certo desejo reprimido e como que separado da coisa desejada, estendida e traçada a ela em vão.

2.                  Ódio (μίσος): desejar o mal a alguém com crescente intensidade e continuidade.

3.                  Contenciosidade (φιλονεικία): certo desejo sobre a escolha.

4.            Ira (ὀργή): desejo inadequado de vingança contra quem parece ter cometido uma injustiça.

5.                  Amor passional (ἔρως): desejo que não atinge os virtuosos, pois é esforço por fazer amizade com o que parece belo.  

6.   Loucura (μῆνις): é certa ira encanecida e vingativa, que espera uma oportunidade.

7.            Ressentimento (θυμός): é a ira em seu começo.

 

                 PRAZER (ἡδονή) 

1.      Encantamento (κήλησις): prazer enfeitiçado pelo ouvidos.

2.       Alegria pelo infortúnio alheio (ἐπιχαιρεκακία): prazer pelos males de outrem.

3.      Deleite perverso (τέρψις): certo impulso da alma para a fraqueza.

4.      Dissolução da excelência (διάχυσις): é a dissolução da virtude.

 



[1] GRAVER, Margaret, Cícero on the emotions: Tusculan Disputations 3 and 4.

[2] DINUCCCI, Aldo,  A relação entre virtudes, vícios e paixões boas no estoicismo, p. 333.

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