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A mostrar mensagens de setembro, 2020

Fake News: uma conversa entre Górgias de Leontinos, Epicteto e Galeno.

                                                                                                                                     Por Marcus Resende   Tudo aconteceu em uma pequena cidade do interior de São Paulo, onde uma mulher foi assassinada na frente dos filhos. Logo surgiram as notícias nos veículos de comunicação digital estampando em suas manchetes que a mulher havia sido morta a tiros após briga por levar bolo e não salgado à festa. É uma notícia tão estranha e fora do comum que não tem como evitar perguntar como isso é possível, certo? Como uma pessoa pode ser morta por não ter levado à festa o prato combinado? Certamente essa foi a pergunta de muitos leitores que se depararam com a inusitada manchete. Três dias depois do estranho anúncio, os mesmos veículos de comunicação publicaram que havia uma nova versão para o crime. Uma testemunha não identificada afirmou que o assassino estava discutindo com a esposa quando a vítima ofereceu um pedaço de bolo à mulher envolvida na

Será que tudo depende de nós?

  Por Joelson Nascimento in   Socientifica.com.br     Começarei essa reflexão parafraseando algumas frases que tenho ouvido e lido ao longo de minha vida: ‘Tudo depende de você!’; ‘Seu destino, suas regras’; ‘O futuro é você quem faz’. Frases como essas carregam uma mensagem clara: tudo depende de nós. Por essa ideia parecer transferir-nos um poder divino, gostaria de refletir sobre suas consequências levantando algumas questões: será que tudo realmente depende de nós? Se sim, como resolver os conflitos? Se não, como ser responsáveis por nossas ações? Vamos trazer para nossa reflexão o filósofo estoico Epicteto:   “Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa. Por natureza, as coisas que são encargos nossos são livres, desobstruídas, sem entrav

Aristóteles e o Relacionamento Virtual

    Por Joelson Nascimento in   Socientifica.com.br   Somos seres do mundo, estamos permanentemente envolvidos por ele. Levantamo-nos pela manhã, tomamos o nosso café, por vezes vamos ao trabalho, olhamos nosso e-mail, por fim, desenvolvemos nossas atividades diárias. A sequência de nossas ações torna-nos tão inseridos no cotidiano que acabamos por ter uma visão subjetiva do mundo a partir de nossa rotina. Se parássemos por algum tempo e tentássemos abstrair o mundo, ou os mundos que existem independentes de nossas experiencias, veríamos um mosaico composto pelas mais variadas formas de o apreender. Ver o mundo através dos olhos da Física, Química, Biologia; colocar as lentes da Matemática, assim como da Antropologia e Sociologia. Quão longe chegaríamos; quão universais nos tornaríamos? Dizemos isso porque a visão filosófica do mundo é apenas mais uma maneira de abordá-lo. Não temos aqui a pretensão de propor soluções para os relacionamentos característicos de nossa época, mas apen

O Silêncio de Zenão

                     Por Joelson Nascimento in  Quarka.com.br   Os antigos eram reservados nas palavras, porque se envergonhariam caso seu agir não estivessem à altura delas (Confúcio, Anacletos , IV, 22).   Zenão foi um fenício fundador da escola estoica de filosofia que chega em Atenas por volta de 300 a.C. De acordo com Diógenes Laércio, Perseu nos conta que, de início, Zenão recusava grande parte dos convites para jantar por possuir uma aparência estranha (VII, 1). Crates, percebendo a incompatibilidade de sua timidez com o cinismo, entregou-lhe uma panela cheia de lentilhas para ser carregada pelo mercado, tarefa que Zenão não pode cumprir por vergonha. Zenão consegue transformar essa timidez em um caráter rígido, livre das opiniões externas. Além disso, desenvolve uma objetividade no trato com as palavras. Seu uso comedido e preciso lhe fornece uma capacidade de identificar o kairós de forma tão competente quanto Górgias. Gostaríamos, então, de demonstrar com alguns exemplos ex

A Morte nos Lábios: Musônio Rufo desafiando a morte contra Nero em Gyaros / Aldo Dinucci

                                                        

Lista das obras que estão entre as mais importantes da antiguidade

imagem: https://br.pinterest.com/pin/304415256066869540/ Caro leitor,  O professor Aldo Dinucci, em 2008, percebendo meu interesse pela Filosofia clássica, passou-me uma lista contendo 50 títulos de obras sobre o pensamento grego antigo, além de alguns autores nacionais. São leituras obrigatórias àqueles que desejam ter uma visão mais aprofundada do pensamento clássico. Em 2020 estamos relançando essa lista com algumas modificações. Espero que gostem da leitura. Antiguidade: 1-Odisséia de Homero (Abril Cultural)                                                                   2-Ilíada de Homero (Abril, Haroldo de Campos ) 3-Eneida de Virgílio (Abril) 4-Metamorfoses de Ovídio (Ediouro) 5-A Arte de Amar de Ovídio (Ediouro) 6-Satiricon de Petrônio (Ediouro) Platão : 7-Apologia de Sócrates (demais diálogos socráticos trad. Benedito Nunes Editora UFPA) Sugestão quanto aos mais importantes: Período Socrático: 8-Íon (da poesia) 9-Euti

O Vazio como Impedimento e Possibilidade do Movimento

         Por Joelson Nascimento     CONSIDERAÇÕES INICIAIS   Para Aristóteles, o vazio impediria o movimento do Universo. Por outro lado, Lucrécio diz ser improvável a existência do movimento sem um espaço vazio como possibilidade. Mostraremos os argumentos utilizados por esses dois filósofos para a explicação desse fenômeno. Para os argumentos aristotélicos, utilizaremos o Capítulo 3 do livro  A estrutura das revoluções copernicana , de Tomas Kuhn, traduzido por Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira, de 2006. Nesta obra, Kuhn faz uma análise da cosmologia aristotélica encontrada na obra  Dos Céus.  Para os de Lucrécio, nos servirá de base sua obra intitulada  Da natureza , da Coleção Os Pensadores de 1988, traduzida por Agostinho da Silva.   O  HORROR VACUI  ARISTOTÉLICO   Conforme Kuhn (p.105), os gregos tomam para si o termo ‘ horror vacui ’ (horror ao vácuo)   por conta de algumas evidências empíricas. A mais comum era a percepção de que a água apenas sairia de um recipiente, por u